domingo, 22 de junho de 2008

Pânico


A campanha é um jogo para adultos que exige muito auto-controle do candidato.
A campanha eleitoral é uma experiência única. É um jogo de adultos, dificilmente rivalizada em excitação, por qualquer outro “jogo”. É uma experiência tão envolvente, que seus participantes chegam a perder a noção de que não têm tempo para mais nada.
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A alegria da vitória só encontra paralelo na profunda tristeza, carregada de culpa, da derrota. Só quem já experimentou as duas sensações, pode avaliar devidamente a intensidade dos dois sentimentos. É um jogo sustentado pela esperança. Esperança mesmo quando as razões para ela desaparecem. A derrota é a sentença definitiva: não há mais espaço para esperança.
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Se o edifício da racionalidade de sua campanha começa a balançar, não deixe o pânico tomar conta.
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Antes de começar, a campanha é toda ela racionalidade: qual o posicionamento mais adequado, qual o “foco” da candidatura, o que corrigir na imagem do candidato, como planejar a agenda de visitas e viagens, etc.
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Iniciada a campanha, todo aquele edifício de racionalidade começa a balançar, pelo fato de que os outros candidatos começam o seu trabalho. O candidato começa então a comparar o que seus adversários fazem, com o que sua campanha está fazendo. Ele fica, a partir de então, sujeito à duas pressões: manter o curso definido, mesmo que os resultados não apareçam imediatamente, ou seguir as pistas do que os outros estão fazendo, e que lhe parece que está funcionando.
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Com o andamento da campanha aquela racionalidade inicial então, ainda que seja mantida, fica “sitiada” pelos sentimentos. O candidato fica cada vez mais irritável, impaciente, insatisfeito. O tempo, inexorável na sua marcha rumo ao dia da eleição, intensifica a ansiedade, e agrava os inevitáveis erros.
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É nesse momento que as pesquisas podem vir a se tornar a “tortura” do candidato. Como expressão da “realidade verdadeira”, cada pesquisa é aguardada com enorme ansiedade. Se os resultados são bons, uma onda de tranqüilidade e otimismo passa do candidato para todos os seus auxiliares. Mesmo que se policiem, o pensamento da vitória se insinua na campanha.
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Se os resultados são ruins, o grau de tolerância varia na razão inversa da proximidade da eleição. Se ainda falta bastante tempo, há paciência para reuniões e discussões, nas quais busca-se interpretar as razões do insucesso, e as medidas para reverter o quadro.
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O pânico se instala na campanha, quando fica impossível de não reconhecer que:
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1 - há uma evidente tendência de queda nas pesquisas, ou uma estabilidade em patamar baixo que não reage às tentativas feitas;
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2 - o tempo que resta, até o dia da eleição, tornou-se exíguo e reduzido.
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Nestas situações, a possibilidade do pânico vir a se instalar, é muito elevada. A iminência da derrota desencadeia comportamentos irracionais. O candidato que começou com expectativas moderadas, comporta-se como se não mais admitisse a hipótese da derrota. Instalado o pânico, as decisões são tomadas de forma imediatista e emocional quando, mais que nunca, se necessita de serenidade, objetividade e frieza. A tendência quase invariável é buscar identificar o culpado (dentro ou fora da equipe de campanha) ao invés de buscar as causas reais do insucesso.
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Se o pânico tomar conta da campanha, as decisões são tomadas de forma imediatista e emocional.
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A principal conseqüência do pânico, é a desconfiança, ou píor ainda, o pensamento estratégico pelas ações que parecem prometer resultados imediatos. A campanha perde seu eixo, sem substituí-lo por outro, e aceita ser pautada pela dos adversários e pelas pesquisas.
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Abandonada a perspectiva estratégica, busca-se a solução mágica, aquela que adotada, produz resultados imediatos. Este é o momento em que as velhas controvérsias voltam à tona, não mais como opções estratégicas, mas como “remédio salvador”. Divergências, por exemplo, sobre:
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- Atacar ou não atacar;
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- Usar a emoção na publicidade ou apresentar propostas;
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- Fazer promessas impactantes ou manter o princípio da responsabilidade;
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- Denunciar os institutos de pesquisa ou agüentar calado;
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- Explicar “aquela questão pendente” sobre a candidatura ou continuar evitando-a, para não parecer defensivo;
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- Cancelar outras programações e ir para as ruas buscar o eleitor ou manter seu planejamento;
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- Usar o debate para reverter o quadro (obrigação de ganhar o debate) com um lance ousado ou não.
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O importante a assinalar é que estas e outras decisões cruciais, numa situação de pânico, tendem a ser analisadas num clima passional, exigindo resultados imediatos, e não mais na atmosfera racional e objetiva, que é o pré-requisito indispensável para uma decisão estratégica. Dificilmente uma campanha reencontra seu rumo, depois de instalado o pânico. Por isso, tente evitá-lo.
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Primeiro identificando os problemas antes de eles se tornarem graves, e, se isso não for possível, conquistando, pela disciplina, a serenidade necessária para um encaminhamento racional da crise. Em qualquer hipótese, nunca é demais recordar que a derrota faz parte do jogo, que é o desfecho normal para a maioria dos candidatos, que ninguém ganha sempre, e que haverá outras eleições para disputar e ganhar.
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O fato de você não ganhar não significa necessariamente que o eleitor o rejeitou. A conjuntura política de cada eleição é sempre única, e sempre favorece mais alguns candidatos que a outros. Sua obrigação não é ganhar, e sim a de fazer uma campanha competente e competitiva, que dê ao eleitor a melhor alternativa que você pode oferer-lhe. A decisão final é dele.

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