Certa vez, tive que gastar muito tempo e esforço para convencer um candidato que a declaração de que tanto se orgulhava - "Nossa cidade precisa tomar um remédio amargo" - não só não ajudava, como transformava-o num porta voz de más notícias para os eleitores.
Os fatores mais comuns que podem levar uma candidatura para a crise, além das declarações infelizes, são:
- Falta de dinheiro;
- Acusações/revelações cuja gravidade pode destruir a candidatura;
- Conflitos da equipe de campanha com o partido;
- Conflitos dentro da equipe de campanha;
- Queda nas pesquisas de intenção de voto;
- Insatisfação do candidato com a qualidade e eficiência de sua publicidade;
- Mau desempenho do candidato em debate;
- Perda de apoios políticos;
- Mídia hostil ou pelo menos de má vontade;
- Erros de informação ou de conhecimento que abalam a credibilidade do candidato;
- Sentimento generalizado de que a candidatura vai mal e está perdendo as chances de vitória.
Qualquer um destes fatores (há muitos mais) pode dar origem a uma auto-destruição da candidatura, por que implicam necessariamente em gastar tempo, equilíbrio psicológico e motivação na administração da crise, desviando-se do verdadeiro objetivo que é a conquista de votos. A realidade interna da campanha ganha maior importância do que a realidade externa do eleitorado.
Nestas situações, a campanha e o candidato ficam sujeitos a um enorme desgaste. Buscam-se culpados, animosidades e rivalidades contidas vêm à tona, volta-se a discutir o que já foi decidido, mudanças abruptas são propostas, a equipe se divide em grupos que lutam pelo seu controle e, como é óbvio, vazam informações para a mídia e para os adversários sobre a crise.
Grande parte do tempo é gasto em reuniões saturadas pela emoção e passionalismo, que afastam a campanha, cada vez mais, dos seus verdadeiros objetivos. O candidato torna-se impaciente, irritadiço, nervoso e inseguro, ficando na situação mais propícia para cometer erros, tomar decisões impulsivas e fazer declarações infelizes. Todas as candidaturas enfrentam uma ou mais crises em suas campanhas. Na maior parte das vezes, as crises são bem administradas e satisfatoriamente resolvidas, não chegando a prejudicar o esforço eleitoral. Em certos casos, até mesmo resultam no seu aperfeiçoamento.
A magia de ressuscitar a candidatura em crise
Se, entretanto, a campanha em crise não tiver a capacidade política de resolver rapidamente os seus problemas, corre o sério risco de entrar em processo de auto-destruição e não conseguir recuperar-se em tempo de disputar a eleição em condições de vencê-la. É comum que, em situações como estas, um candidato adversário, com o intuito de aproveitar-se da situação, decida intrometer-se na crise para dela tirar proveito. Nada mais errado, pois a intervenção de um adversário, por atos ou declarações, muitas vezes tem o poder mágico de ressuscitar a candidatura em crise.
A intromissão do adversário (principalmente se for o principal oponente) aparece, para a campanha em crise, como a evidência incontestável de que o "inimigo" está se beneficiando do seu conflito interno. Ela tem o poder de trazer novamente para o primeiro plano a realidade externa da campanha: a necessidade de conquistar os votos dos eleitores.
Ao mesmo tempo, a intromissão cria as condições para a recuperação da unidade que havia sido perdida - afinal, podemos ter entre nós diferenças, mas as que temos com o "inimigo" são muito maiores e mais importantes.
Se a campanha não conseguiu encontrar no seu interior os meios para resolver sua crise, pode encontrá-los fora dela, na ajuda que o seu adversário pode prestar-lhe, ao intrometer-se.
É paradoxal mas é verdadeiro, e ocorre com muita freqüência. Por estas razões é que se tornou um princípio estratégico consagrado aquele enunciado no título desta coluna: nunca interfira quando seu adversário estiver ocupado em se auto-destruir.
Francisco Ferraz
Fonte/Original em: Política para Políticos


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